quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um Exercício

Uma Sala de 28 metros quadrados, quatro por sete.
Dois Móveis simetricamente distribuídos na parede mais longa que aponta para o Norte. São baixos e compridos, divididos por seis divisões, como uma prateleira para livros deitada no chão. Em cada uma das divisões um mosaico de inutilidades que pretendem transformar mais um homem num ser humano com sentimentos e atitudes. Livros, CDs e DVDs e mais DVDs, CDs e Livros. Aqui e ali uma referência a algum filme famoso, a um desenho politicamente incorreto, velas que nunca são acessas e vasos que nunca tiveram vida. Entre estes dois móveis há o que de mais moderno no aparato de video-som-entretenimento que um homem quer ter. Sub-Woofers, caixas minusculas que emitem uma centena de decibéis e uma dezena de controles remotos.
Na parede, seguindo uma lógica que não funciona, há quadros. modernos e baratos. achados não sei onde, feitos a mão por artistas que não tem nome. e um espelho fraturado em dezenas de pedaços que não refletem a imagem que deles se espera.
No canto duas guitarras de Plástico. O sonho que habita a mente de todo homem.
Na outro canto há uma entrada para um corredor que leva a outras frustrações.
Na parede contígua um pequeno sofá que nunca é usado para sentar ocupa o seu vazio, ao lado da porta de entrada[ou saída?] para este[ou aquele?] Manicômio.
Oposta a esta parede há grandes portas de vidro que deslizam mostrando para quem não quer ver uma selva de pedra, fria e violenta, indiferente aos sonhos de quem a olha. Cortinas que não fecham corretamente completam um quadro deprimente da vida que todos buscam.
Na parede que fecha este quadro de loucura inacabada há uma mesa que de tão minuscula não serve para colocar um prato de comida e duas cadeiras plásticas que lembram o homem, por um motivo que ele desconhece, da descartabilidade da vida. Há também um moderno sofá branco, com um material que lembra o couro dos ruminantes, com confortáveis almofadas de cor rubi distribuídas aleatoriamente por sobre ele criando um belo contraste.
E no meio desta sala há um tapete vermelho e barato, aonde o homem apóia os seus pés descalços e chora sozinho na noite que começa.

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